Uma batida repentina na porta, deixo meus pergaminhos de lado, pegando minha vela sigo em direção da porta para ver e ao abrir, me deparo com um velho cego encharcado pela tempestade que caia.
- Boa noite senhor, posso ajudá-lo ? - Ao olhar nos olhos do velho encharcado, não pensei duas vezes em traze-lo para dentro.
- Sou grato por sua gentileza meu jovem, não tenho muito a oferecer, mas, se o tiver um canto pra esse velho passar a noite, serei eternamente grato.
- Não precisa me pagar nada senhor, apenas descanse, coma um pocou e quando o dia raiar o senhor poderá seguir seu caminho, tenho uma cama vaga, o senhor poderá dormir bem.
- Não esquecerei desta gentileza meu jovem.
Acima da cama do velho, deixei uma toalha, roupas secas e ao lado em um móvel um ensopado de javali, fatias de pão e um chá quente de ervas.
Por um instante pude ver um sorriso de satisfação no rosto daquele velho cego. Pouco de pois o velho se secou com a toalha, trocou de roupa. apagou a vela e se deitou.
Demorei um pouco para cair no sono mas quando me dei conta já era quase dia e precisava dormir um pouco para encarar minha jornada no porto.
O dia amanheceu bonito, pássaros cantando, o orvalho nas folhas das plantas, um dia ensolarado, fui ver se o velho ainda estava dormindo e me surpreendi com a cena que vi.
A roupa e a toalha dobradas acima da cama, na bandeja com o prato vazio, duas moedas de ouro que nunca vi em nenhuma parte do reino e um bilhete.
"Meu caro jovem, como disse a você, este velho enfermo não tem muito a lhe oferecer, então deixo meu maior tesouro como forma de agradecimento por sua gentileza. Ass: O Guardião Cego"
Percorri o reino em busca deste velho, fui ao grande mercado, perguntei aos guardas, até mesmo os bandidos não viram ou ouviram falar deste velho.
No final do dia fui a taverna como de costume, uma bebida gelada, javali, pão e queijo, notei que o bobo da corte estava na taverna me observando de longe e com um gesto de cabeça me convidou a sentar em sua mesa.
Uma mesa no canto escuro da taverna, aonde poucos sentavam, curioso fui até ele.
- Boa noite meu amigo, folga hoje ? - questionei, pois quase não se via o bobo da corte de folga.
- O rei e a rainha foram viajar e me deram uns dias de folga, mas, soube que está em busca de um velho cego- fiquei intrigado com a pergunta.
-Sim estou em busca dele para devolver algo que ele esqueceu..- antes de terminar a frase, fui interrompido.
- Aceite o presente dele, foram duas moedas de ouro não ? - fiquei espantado, pois não falei a ninguém sobre as moedas.
- Fale baixo, mas sim , duas moedas nunca vistas no reino. - o sorriso do bobo brilhou ainda mais.
- Apenas aceite, elas não existem mesmo, dizem que o guardião cego aparece para os necessitados. - fiquei intrigado com a afirmação.
- E como sabe disso ? - questionei o bobo vendo sua expressão segura e tirando duas moedas iguais de seu bolso.
- Eu sei porque depois que eu o salvei de bandidos e quase morri na estrada, ele me socorreu e arrumou este trabalho de bobo da corte. - O sorriso sumiu após terminar a frase.
-Entendo o que diz, obrigado pela conversa.- após terminar de conversar pedi duas cervejas.
Os dias passaram, dias longos no porto, noites de festa na taverna, o festival do solstício se aproxima, o vilarejo se prepara para os grandes festivais que acontecerão, até lá teremos muito o que fazer.
O porto recebendo o dobro de barcos, o grande mercado sendo expandido para dentro do pátio do castelo , mas uma coisa não me sai da cabeça.
Nenhum comentário:
Postar um comentário