quinta-feira, 2 de abril de 2020

Guardião Cego

Lembro da noite em que a tempestade estava forte no reino, raios cortando os céus, junto aos trovões que explodem ecoando pelo vale.

Uma batida repentina na porta, deixo meus pergaminhos de lado, pegando minha vela sigo em direção da porta para ver e ao abrir, me deparo com um velho cego encharcado pela tempestade que caia.

- Boa noite senhor, posso ajudá-lo ? - Ao olhar nos olhos do velho encharcado, não pensei duas vezes em traze-lo  para dentro.

- Sou grato por sua gentileza meu jovem, não tenho muito a oferecer, mas, se o tiver um canto pra esse velho passar a noite, serei eternamente grato.

- Não precisa me pagar nada senhor, apenas descanse, coma um pocou  e quando o dia raiar o senhor poderá seguir seu caminho, tenho uma cama vaga, o senhor poderá dormir bem. 

- Não esquecerei desta gentileza meu jovem.

Acima da cama do velho, deixei uma toalha, roupas secas e ao lado em um móvel um ensopado de javali, fatias de pão e um chá quente de ervas.

Por um instante pude ver um sorriso de satisfação no rosto daquele velho cego. Pouco de pois o velho se secou com a toalha, trocou de roupa. apagou a vela e se deitou. 

Demorei um pouco para cair no sono mas quando me dei conta já era quase dia e precisava dormir um pouco para encarar minha jornada no porto.

O dia amanheceu bonito, pássaros cantando, o orvalho nas folhas das plantas, um dia ensolarado, fui ver se o velho ainda estava dormindo e me surpreendi com a cena que vi.

A roupa e a toalha dobradas acima da cama, na bandeja com o prato vazio, duas moedas de ouro que nunca vi em nenhuma parte do reino e um bilhete.

"Meu caro jovem, como disse a você, este velho enfermo não tem muito a lhe oferecer, então deixo meu maior tesouro como forma de agradecimento por sua gentileza. Ass: O Guardião Cego"

Percorri o reino em busca deste velho, fui ao grande mercado, perguntei aos guardas, até mesmo os bandidos não viram ou ouviram falar deste velho.

No final do dia fui a taverna como de costume, uma bebida gelada, javali, pão e queijo, notei que o bobo da corte estava na taverna me observando de longe e com um gesto de cabeça me convidou a sentar em sua mesa.

Uma mesa no canto escuro da taverna, aonde poucos sentavam, curioso fui até ele.

- Boa noite meu amigo, folga hoje ? - questionei, pois quase não se via o bobo da corte de folga.

- O rei e a rainha foram viajar e me deram uns dias de folga, mas, soube que está em busca de um velho cego- fiquei intrigado com a pergunta.

-Sim estou em busca dele para devolver algo que ele esqueceu..- antes de terminar a frase, fui interrompido.

- Aceite o presente dele, foram duas moedas de ouro não ? - fiquei espantado, pois não falei a ninguém sobre as moedas.

- Fale baixo, mas sim , duas moedas nunca vistas no reino. - o sorriso do bobo brilhou ainda mais.

- Apenas aceite, elas não existem mesmo, dizem que o guardião cego aparece para os necessitados. - fiquei intrigado com a afirmação.

- E como sabe disso ? - questionei o bobo vendo sua expressão segura e tirando duas moedas iguais de seu bolso.

- Eu sei porque depois que eu o salvei de bandidos e quase morri na estrada, ele me socorreu e arrumou este trabalho de bobo da corte. - O sorriso sumiu após terminar a frase.

-Entendo o que diz, obrigado pela conversa.- após terminar de conversar pedi duas cervejas.

Os dias passaram, dias longos no porto, noites de festa na taverna, o festival do solstício se aproxima, o vilarejo se prepara para os grandes festivais que acontecerão, até lá teremos muito o que fazer.

O porto recebendo o dobro de barcos, o grande mercado sendo expandido para dentro do pátio do castelo , mas uma coisa não me sai da cabeça.

Quem é este "GUARDIÃO CEGO"


Nenhum comentário:

Postar um comentário